Semana da Intervenção Neuropsicologica

1º Dia

A Importância da Intervenção Neuropsicológica e do Treino Cognitivo/Cerebral

O sistema nervoso central é o centro programador da actividade cognitiva e tem a capacidade de modificar a sua estrutura. Quando nascemos dispomos de um equipamento básico formado por células e circuitos nervosos, no entanto, a modelação do sistema nervoso continua ao longo do ciclo da vida. As alterações do sistema nervoso produzem modificações na sua estrutura ou no seu funcionamento, mas também é possível a sua modificação através da experiência e aprendizagem, assim como, mediante a utilização do treino cognitivo com exercícios específicos.

Qualquer nova aprendizagem que realizarmos ao longo da nossa vida pode produzir mudanças no sistema nervoso: aprender a andar de bicicleta; memorizar um texto; ou aprender a cozinhar. O nosso cérebro está em permanente ebulição, esperando receber informações para as processar e melhorar o seu funcionamento. É possível, portanto, modificar os circuitos nervosos que interconectam as células nervosas, mediante um treino cognitivo para melhorar a capacidade de atenção, memorização, raciocínio, perceção ou velocidade do processamento da informação.

O objetivo da intervenção neuropsicológica e do treino cognitivo é alcançar a melhoria das funções mentais, através de exercícios específicos, procurando potenciar as áreas mais deficitárias do sistema nervoso para produzir mudanças consolidadas na sua estrutura neuroquímica e neuroelétrica ou apenas para promover um maior rendimento das capacidades intelectuais necessárias para o sucesso pessoal ou escolar/profissional. A autoplasticidade possibilita mudanças no organismo, fazendo com que cada pessoa use, progressivamente, formas mais elaboradas de funções mentais, permitindo com isso organizar a realidade e usar experiências passadas como um modo de planear, antecipar e facilitar situações desejáveis e, também, prevenir as indesejáveis da sua concretização.

A plasticidade cerebral permite que o treino cognitivo produza melhorias significativas tanto em sujeitos saudáveis, como em sujeitos com lesões/alterações cerebrais, em qualquer momento do ciclo de vida.

Ao longo dos anos têm sido desenvolvidas inúmeras investigações e teorias acerca da forma como tratar as alterações neurológicas e neuropsicológicas. Os primeiros programas sistemáticos de reabilitação neuropsicológica surgiram na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e desde então que se têm desenvolvido inúmeras técnicas de intervenção cognitiva.

Atualmente dispomos de um conjunto de métodos e técnicas de intervenção que consistem num treino das funções neuropsicológicas através da estimulação de aptidões específicas com exercícios computorizados (Rehacom) ou manuseáveis e a programação de atividades na vida diária.

Desenvolve-se, ainda, um treino de controlo das ondas cerebrais – Neurofeedback – para promover a atenção-concentração, o controlo do comportamento/ansiedade e a maturação de estruturas cerebrais responsáveis pelos atrasos no desenvolvimento e na aprendizagem.

A estimulação cognitiva específica, realizada de forma sistemática e contínua, pode melhorar o metabolismo nas áreas cerebrais estimuladas. Dado isto, a intervenção neuropsicológica tem sido aplicada em muitos casos de distúrbios que afetam o sistema nervoso como lesões neurológicas por traumatismo, epilepsia ou em casos de atraso do desenvolvimento, perturbação de hiperatividade e défice de atenção e dificuldades de aprendizagem específicas.

Filipa Lourenço – Neuropsicóloga Pediátrica