O contributo da Terapia de Integração Sensorial na promoção da autonomia das crianças com Perturbações do Espectro do Autismo (PEA)

Uma criança autónoma é aquela que consegue desempenhar uma atividade sem qualquer apoio. As primeiras autonomias a serem esperadas numa criança passam pela autonomia nas atividades da vida diária.

As atividades de vida diária são as tarefas que a pessoa realiza diariamente. Não se resume somente aos autocuidados – como  vestir-se, alimentar-se, tomar banho, e pentear-se -, mas engloba também as capacidades de usar o telefone, escrever, manipular livros, entre outras, além da capacidade de virar-se na cama, sentar-se, mover-se e transferir-se de um lugar para o outro. Numa criança entre os 3 e os 4 anos, é esperado que esta adquira autonomia no controlo dos esfíncteres, que comece a comer sozinha, que se dispa antes de entrar para o banho e que participe ativamente na sua higiene (como lavar as mãos e as diferentes partes do corpo).

Para que uma criança seja capaz de atingir a autonomia nas suas atividades da vida diária tem que conseguir interpretar corretamente os estímulos sensoriais do seu corpo e do mundo que a rodeia.

É comum observarmos crianças com perturbação do espectro do autismo (PEA) com dificuldade em: utilizar os talheres durante as refeições, nomeadamente a faca; vestir-se lentamente, com dificuldade em coordenar os movimentos e sem se aperceber que tem a roupa torcida no corpo; recusar comer alimentos com determinada textura ou procurar comer sempre os mesmos alimentos com sabores e/ou texturas especificas.

Estas crianças, geralmente, apresentam problemas no processamento sensorial (táctil, proprioceptivo, vestibular, auditivo, visual, olfativo e/ou gustativo), que afetam o seu desempenho ocupacional no seu dia-a-dia, nomeadamente nas atividades da vida diária.

Este pobre processamento sensorial pode estar associado à “falta de registo” ou “registo incorreto” da entrada de informação sensorial no cérebro da criança, fazendo com que a mesma, nuns momentos, preste pouca atenção à maioria das coisas, e noutros, tenha comportamentos de híper-reação – por exemplo, faz birras na hora do banho ou da alimentação,  só come um grupo reduzido de alimentos.. O cérebro da criança faz com ela queira fazer as coisas, especialmente coisas novas ou diferentes, mas como não funciona normalmente, a criança tem pouco ou nenhum interesse, em fazer as coisas que são propositadas ou construtivas.

Quando estamos perante estas dificuldades é importante que a criança possa frequentar a Terapia ocupacional e desenvolver um plano terapêutico baseado na terapia de integração sensorial. O objetivo da intervenção, segundo esta terapia, é melhorar o processamento sensorial para que as sensações sejam “registadas” e modeladas mais eficazmente, e para incentivar a criança a envolver-se de forma mais eficaz nas atividades que são esperadas para a sua idade, ajudando-a a aprender a organizar o seu comportamento. Durante a sessão são realizadas atividades com alto teor sensorial, que vão de encontro aos interesses e necessidades da criança. Assim a criança pode desenvolver as competências motoras, sensoriais, cognitivas e de interação necessárias à autonomia nestas atividades.

A par das atividades com alto teor sensorial desenvolvidas em contexto terapêutico, é muito importante o envolvimento da família em todo o processo, estimulando a participação ativa da criança durante as atividades da vida diária e utilizando as estratégias para facilitar o seu desempenho.

Desta forma, conseguimos que a criança atinja o máximo de autonomia dentro da idade esperada e assim se mantenha “aberta para o mundo”, sentindo-se mais capaz de o explorar e interagir com ele e com quem o rodeia.

Dra. Mariana Ventura (Terapeuta Ocupacional – Integração Sensorial , Estímulopraxis – Centro de Desenvolvimento Infantil)