Terapia Intensiva

-Programa (Re)Habilitar para Crescer –

A Equipa da Estímulopraxis desenvolveu um Programa de Reabilitação, baseado numa abordagem de terapia intensiva – Programa (Re)Habilitar para Crescer. Este programa foi criado para ser uma resposta concreta e organizada,  às necessidades apresentadas pelas famílias. Esta é uma resposta sobretudo para as famílias com crianças ou adolescentes com perturbações do desenvolvimento da coordenação motora, síndromes genéticas ou metabólicas com consequentes desvios no desenvolvimento psicomotor, que procuram intervenção terapêutica na Estímulopraxis.

Neste sentido, o Programa integra várias abordagens terapêuticas, que mediante as necessidades de cada criança são selecionadas para o programa de 80 horas. Deste Programa fazem parte as seguintes abordagens terapêuticas, Cuevas Medek Exercise, Protocolo Intensivo de Reabilitação Pediasuit, Método Padovan de Reorganização Neurofuncional, Fisioterapia, Terapia da Fala e Reabilitação Psicomotora. As últimas 3 áreas de intervenção terapêutica, irão complementar os programas intensivos apresentados ou entre si criarem um programa intensivo, de acordo com as necessidades da criança e da família.

Após recolha de informação relativa ao diagnóstico médico, historial clínico e terapêutico, avaliação multidisciplinar e levantamento das necessidades e expectativas dos cuidadores, é definido em equipa e com os cuidadores o programa de reabilitação mais adequado à criança. Todo este processo deve ser feito o mais precoce possível, tendo em conta a neuroplasticidade nos primeiros 3 anos de vida da criança.

Em que consiste uma terapia intensiva?

Os programas de intervenção intensivos tem a duração de 80 horas, que podem ser de 2 a 4 horas diárias. Associado à terapia intensiva estão palavras como, duração, repetição, intensidade.

A Direção Geral de Saúde para algumas situações de saúde (ex. AVC), tem definido que a reabilitação intensiva é considerada por um período diário de terapia, igual ou superior a 3 horas.

Neste período de terapia existe um princípio essencial à sua concretização, a repetição de tarefas ou de exercícios. A importância da repetição é  fundamentada pela teoria da aprendizagem de Donald Hebb, onde se explica que através da repetição, as ligações sinápticas entre os neurónios são fortalecidas, permitindo assim o aumento da plasticidade sináptica. Ao nível das neurociências é dito que a repetição é essencial para aprendizagem e memorização, sendo essencial uma metodologia, para tornar a informação dada com sentido e significado, que faça a criança compreender e integrar a informação.

Está ainda comprovado que a intensidade da tarefa ou exercício, tem benefícios ao nível do fortalecimento muscular e equilíbrio (Bottos, Feliciangeli, Sciuto, Gericke & Vianello, 2001), ganhos que são depois refletidos nas atividades funcionais diárias. É também possível a eliminação dos reflexos patológicos (Semenova, 1997) e o estabelecimento de padrões novos, precisos e funcionais de movimento (Damiano, 2006). De referir ainda que é comprovada uma melhoria não só no desenvolvimento motor, mas também ao nível do desenvolvimento cognitivo, comunicação e linguagem e autonomia nas atividades de vida diária. Estes últimos ganhos referidos como consequência da terapia intensiva, justificam-se uma vez que o ser humano é um ser holístico, onde todas as suas componentes e áreas se interrelacionam e por isso o desenvolvimento de uma delas consequentemente permite o desenvolvimento de todas as outras.

A literatura reporta que através da terapia intensiva é possível aquisição de habilidades/competências significativamente melhores, quando comparadas com a terapia convencional de fisioterapia e geralmente pode acelerar a aquisição de capacidades motoras em crianças com Paralisia Cerebral (Bair Ham, Harries, Belokopytov, Frank, Copeliovitch, Kaplanski, et al., 2006; Tsorlakis, Evaggelinou, Grouios & Tsorbatzoudis, 2004; Bower, Mclellan, Arney & Campbell, 1996).

A terapia intensiva é ideal para as crianças que devido à sua condição clínica, se considera essencial acelerar o progresso do seu desenvolvimento e as capacidades funcionais (Arpino, Vescio, de Luca & Curatolo, 2010).

Quais as vantagens e desvantagens?

Ao falarmos de terapia intensiva e na seleção desta abordagem terapêutica para uma criança, importa ter também em conta as vantagens e desvantagens da mesma.

Como vantagens e tal como já foi referido, a terapia intensiva permite acelerar o desenvolvimento psicomotor e aumentar a funcionalidade, demostrando ter mais aquisições relativamente às terapias convencionais, permite a eliminação dos reflexos patológicos e o estabelecimento de padrões de movimento novos, precisos e funcionais e os ganhos são observados nas atividades funcionais.

Quanto às desvantagens é possível abordar a questão de alterações de logística familiar tanto em termos de rotinas como por questões monetárias e a adaptação da criança a novos horários e rotinas.  

Para concluir é importante referir a importância do envolvimento dos cuidadores em todo este processo terapêutico, uma vez que todo o desenvolvimento da criança é explicado “como o produto de uma contínua dinâmica de interações da criança e a experiência proporcionada pela família e o contexto social.” (Sameroff & Fiese, 1990), e neste sentido fala-se num modelo ecológico e não um modelo médico, onde a família é parte central do desenvolvimento de qualquer criança. De referir ainda que a terapia intensiva não é apenas a repetição e repetição de tarefas, consiste sim numa abordagem estruturada de cada movimento, tendo sempre em consideração os ciclos individuais de sobrecarga progressiva, cansaço e recuperação da criança.

Daniela Pereira

Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora