Importância da Nutrição no funcionamento cerebral e nas perturbações do desenvolvimento

Uma alimentação saudável é fundamental para que todas as crianças tenham um crescimento e desenvolvimento adequado, mas no caso das crianças com autismo e outras perturbações do desenvolvimento e/ou comportamento, a alimentação ganha ainda mais importância, pois pode ter um importante efeito terapêutico.O cérebro é um órgão, e como tal, tem necessidades nutricionais específicas para que possa desempenhar corretamente as suas funções. Sem o nível adequado de nutrientes fundamentais, o funcionamento cerebral fica comprometido.

Um dos nutrientes mais importantes são as gorduras adequadas, visto que o cérebro constitui a segunda maior acumulação de gordura do organismo (depois do tecido adiposo). Estas gorduras, criteriosamente selecionadas, possuem importantes funções no adequado funcionamento cerebral. São consideradas essenciais, tendo de ter origem alimentar, pois não possuímos as enzimas necessárias para as produzir – ou seja, se não as ingerirmos, a qualidade de gorduras presentes no cérebro fica comprometida, e com isso, comprometemos o adequado funcionamento deste nosso órgão.

Diferentes estudos têm revelado que algumas crianças com necessidades especiais parecem apresentar particularidades metabólicas únicas, que implicam necessidades nutricionais também únicas. Isto significa que  algumas destas crianças  precisam de doses superiores de determinados nutrientes, pelo que se ingerirem as doses consideradas “normais” vão apresentar sintomas de deficiência e/ou mau funcionamento de determinadas vias metabólicas. Estas necessidades extra de determinados nutrientes podem ser durante muito tempo, ou apenas durante um curto espaço de tempo, enquanto outras partes do metabolismo estão a funcionar menos bem. Nas crianças com PEA parece ainda existir uma elevada prevalência de patologia gastrointestinal, nomeadamente diarreia, obstipação, refluxo gastroesofágico e gastrite. Dada as diferentes alterações associados à patologia, em especial a nível da comunicação, estas perturbações gastrointestinais nem sempre são identificadas, e/ou tratadas, e podem estar na origem de algumas alterações do comportamento. É por isso importante que os diferentes terapeutas trabalhem em conjunto com médicos e nutricionistas, no sentido de diferenciarem uma crise comportamental de uma dor. Nos últimos anos têm –se vindo a revelar o importante contributo do nosso microbioma intestinal em diferentes aspectos da nossa saúde, desde a obesidade, funcionamento do sistema imune, mas também a nível cognitivo. Diferentes estudos têm revelado diferentes alterações a nível do microbioma de muitas das crianças com PEA, que poderão contribuir para algumas das suas alterações comportamentais. Dada a importância da alimentação no desenvolvimento de um adequado microbioma, mais uma vez aqui é possível atuar de forma a melhorar o bem estar destas crianças.Além disso, numa grande maioria destas crianças, existem diferentes alimentos (muitos deles considerados saudáveis), que podem ser bastante problemáticos, pois podem induzir alterações imunitárias, fisiológicas e comportamentais. O exemplo mais conhecido são os alimentos com glúten, com caseína (uma proteína láctea), e a implementação de uma dieta sem estes elementos tem revelado efeitos benéficos num numero bastante elevado de crianças dentro do espectro.A alimentação pode assim influenciar o funcionamento cerebral das crianças com PEA de diferentes formas, sendo por isso fundamental a sua inclusão no tratamento multidisciplinar desta patologia. A alimentação e a nutrição optimizam o terreno, para que os diferentes terapeutas possam trabalhar as diferentes alterações presentes nas PEA.

Dra. Daniela Seabra

Nutrição Funcional

Abordagem nutricional do Autismo