Perturbação do Espectro do Autismo e a Relação com o Mundo

As crianças e jovens com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) apresentam uma grande dificuldade em interagir com o mundo que as rodeia, quer por se centrarem no seu próprio corpo e interesses, ignorando os outros, quer por não compreenderem os mecanismos básicos da interação.
Estas dificuldades estão intimamente ligadas com a capacidade destas crianças em compreender e gerir as suas próprias emoções e as dos outros, compreender as mensagens não-verbais, como as expressões faciais e a mímica corporal, e conseguir iniciar e manter as interações.
É através da proximidade e relação com o outro que a criança com PEA poderá aprender a desenvolver as competências necessárias à interação social, sendo os contextos em que se desloca – casa, comunidade, escola – de extrema importância. Assim, a forma como estes contextos estão organizados e os estímulos/informação que dele advêm são importantes fatores para trabalhar as competências sociais das crianças com PEA.
Conseguir a atenção da criança e estruturar o ambiente são estratégias importantes a ter em conta, a par do brincar e de uma abordagem cognitivo-comportamental.
As crianças com PEA não têm uma estrutura interna bem definida e, como tal, um ambiente bem organizado, com atividades adequadas e com rotinas estabelecidas facilitam a forma como a criança responde ao que lhe vai sendo solicitado, aprendendo a interagir com o outro e com o mundo que o rodeia de forma adequada.
O brincar é a forma, por excelência que a criança tem para aprender. É através dele que as crianças desenvolvem as suas capacidade para interagir socialmente, explorar sentimentos e emoções, solucionar problemas e desenvolver competências motoras, a criatividade e a atenção. Dadas as dificuldades da criança com PEA nestas áreas, brincar é por si só um desafio importante de ultrapassar. Utilizar os interesses da criança para chamar a sua atenção e através deles iniciar o jogo, utilizar expressões faciais e comunicativas intensas e expressivas são as principais estratégias a ter.
Na abordagem cognitivo-comportamental (ABA, Teach, DIR Floor Time, entre outros), o comportamento da criança é analisado – não apenas as suas dificuldades mas, também, aquilo que ela é capaz de fazer com êxito – de forma a potenciar as suas áreas fracas através daquilo em que é boa e mais gosta. Uma vez que esta abordagem está intimamente ligada com o desenvolvimento das aprendizagens juntamente com o brincar observa-se um bom desenvolvimento nas autonomias da criança, na relação com o mundo que a rodeia e consequentemente na forma como se relaciona com os outros.

Dra. Mariana Ventura
Terapeuta Ocupacional/Integração Sensorial
Programa Crescer Passo a Passo