Mais um ano letivo que começa, neste período é essencial refletir sobre a aprendizagem da criança e abordar questões como as Dificuldades de Aprendizagem Específicas (DAE).
De acordo com a Associação Portuguesa de Pessoas com Dificuldades de Aprendizagem Especifica (APPDAE) existem cerca de 5 a 10% de alunos em Portugal que são afetadas por estas dificuldades, das quais 2/3 são do género masculino. Neste sentido, decidimos responder a algumas questões que são colocadas no âmbito da Terapia da Fala (TF). Torna-se fundamental perceber melhor esta temática e de que maneira a TF intervém em crianças com estas dificuldades.
Como surgiu a necessidade da TF nas Dificuldades de Aprendizagem?
Surgiu da necessidade de se dar uma resposta específica a um conjunto cada vez mais alargado de alunos que apresentam um quadro de insucesso escolar, especificamente, nas áreas de leitura e escrita. No entanto, a TF só intervém na aprendizagem da leitura e escrita quando a origem destas dificuldades advém de alterações que a criança apresente em qualquer umas das áreas da linguagem, seja ela de caráter fonológico, morfosintática ou semântico-pragmático.
E qual a natureza destas dificuldades?
Pode ser multifatorial, como Terapeuta da Fala surgem-me crianças com DAE, quando as alterações de aprendizagem se referem à aprendizagem da leitura e da escrita. São vários os estudos que comprovam que as alterações de linguagem que possam ocorrer em idades precoces, sobretudo alterações de carater fonológico (discriminação e domínio dos sons da língua) influenciam diretamente a aquisição da leitura e escrita, bem como o restante desempenho escolar das crianças. É neste sentido que o desenvolvimento adequado de competências de comunicação, linguagem e fala são pré requisitos para um bom desenvolvimento da aprendizagem da literacia e consequentemente da escrita.
Quando procurar ajuda especializada?
Os Pais , Educadores, Professores, Pediatras de Desenvolvimento, são normalmente os primeiros a referenciar alguma alteração. Em crianças em idade pré escolar, os pais podem sentir que a sua criança não se expressa bem, não discrimina bem o que ouve ou faz alguma troca de sons e sílabas nas palavras. Nas crianças em idade escolar, os pais começam a sentir que existem algumas dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita. É de salientar que os Educadores,Professores e Pediatras de Desenvolvimento são as melhores pessoas para dar este feedback, pois podem dar a sua opinião aos pais e encaminha-los para uma avaliação em Terapia da Fala. No entanto, estas dificuldades podem ocorrer individualmente ou em co-morbilidade com outras questões. Podem ser questões de caráter emocional, neurológico, audiológico, educacional ou até comportamental que devem ser acompanhadas por toda uma equipa multidisciplinar a fim de se obter melhores resultados.
Existem meios de prevenir estas alterações?
Sim, pode-se prevenir. Evitar que aconteça vai depender de caso para caso. Logo desde o nascimento todo um conjunto de atividades lúdicas para estimular o desenvolvimento global deve ser realizado. Estas devem ser realizadas sempre de forma prazerosa, através de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta satisfação. Torna-se pertinente envolver a família e, se possível, a escola, nestes momentos de aprendizagem.
Deve-se prestar especial atenção à expressão e compreensão da criança, aproveitando as oportunidades oferecidas ao longo do quotidiano para que a criança:
Observe e descreva acontecimentos vividos com os seus pares e cuidadores. Narre histórias e contos que ouviu,ouça cantigas, lenga lengas e músicas. E que ao longo do tempo tente imitar o processo de canto musical. Tenha acesso a atividades de leitura lúdica. E que os pais e outros cuidadores sejam bons modelos nessa temática. Tenha acesso a atividades lúdicas enriquecidas com a observação de imagens, sons, letras, palavras e frases que sejam adaptáveis à idade de cada criança.
Dra. Patrcia Teixeira – Terapeuta da Fala
Estimulopraxis Centro de Desenvolvimento Infantil
