HÁBITOS ORAIS: UM ESCLARECIMENTO PARA PAIS


Sempre que pensamos no enxoval da criança, entre babygrows, fraldas, babetes, biberons e lençóis, lá aparecem as chupetas… Não obstante a sua importância, mostra-se essencial perceber o enquadramento da sua necessidade, assim como identificar a melhor atitude e conduta na sua utilização.
A sucção assume um papel primordial no desenvolvimento do bebé, começando por ser um reflexo que lhe permite alimentar-se desde o nascimento. Ao longo do tempo, favorece o crescimento, o desenvolvimento e a maturação de todas estruturas orofaciais e, por consequência, a harmonização das funções de mastigação, deglutição, respiração e, mais tarde, articulação dos sons da fala. Além disso, a sucção está intimamente ligada a fatores afetivos e emocionais, permitindo a manutenção do vínculo entre o bebé e a mãe, já iniciado in utero.
A necessidade fisiológica da sucção está presente até por volta dos 9-12 meses, pelo que a partir daí assume uma natureza psico-emocional, adotando muitas vezes um padrão mais complexo. Os hábitos orais são, assim, comportamentos aprendidos que, por repetição, se tornam automáticos, inconscientes e resistentes à mudança. Realizam-se com as estruturas orofaciais (língua, dentes, lábios, bochechas, …), podendo também existir o envolvimento de objetos ou outras partes do corpo, como a chupeta ou o dedo. Temos como alguns exemplos de hábitos orais: chuchar o dedo, usar chupeta, roer as unhas, sugar a própria língua ou o lábio, etc.
A curto prazo as consequências destes comportamentos podem parecer insignificantes, mas a verdade é que a sua permanência poderá trazer alterações nas estruturas orofaciais, nomeadamente modificações na arcada dentária, na forma do palato (céu da boca), na posição e tónus da língua, dos lábios e bochechas. Destas decorrerão perturbações nas funções por elas desempenhadas, podendo assim surgir alterações na respiração, mastigação, deglutição e fala.
O nível de gravidade das alterações estruturais e funcionais referidas dependerá, para além do hábito oral propriamente dito, da sua frequência, duração e intensidade, da resistência das estruturas, da idade, do estado de saúde e predisposição genética da criança.
Torna-se desta forma notório que a atitude dos pais face a esta temática assume um papel determinante na garantia de que tudo correrá pelo melhor. A bibliografia refere que a idade ideal para o abandono da chupeta é por volta dos dois anos, pelo que até lá deverão ter-se alguns cuidados que facilitem essa rutura.
A chupeta escolhida deverá ser de latex ou silicone (este é mais fácil de lavar e, por isso, mais higiénica), do tamanho adequado ao bebé e ortodôntica ou anatómica, pois o seu formato permitirá que as estruturas mantenham uma postura e movimentos adequados.
A chupeta não deverá ser usada de forma indiscriminada, sendo aconselhável que apenas seja oferecida quando o bebé tem necessidade de sugar, sobretudo quando está com sono, cansado, agitado, com desconforto ou dor. É essencial que seja retirada alguns minutos depois, quando a criança estiver mais calma ou quando adormecer, de modo a não tornar o hábito frequente.
Por outro lado, o uso da chupeta durante o sono prejudica o estabelecimento de um padrão de respiração nasal adequado, uma vez que com ela na boca os lábios permanecem ligeiramente abertos permitindo a entrada e saída de ar e, ao longo do tempo, a instalação de uma padrão de respiração predominantemente oral. Este comportamento tem como consequência efeitos colaterais nefastos e cria um ciclo vicioso de causa-efeito. Surgem alterações na postura da língua, na configuração do palato, na oclusão dentária e desequilíbrio no crescimento e desenvolvimento da estrutura osteoesqueléticas da face (crescimento vertical). Por consequência as funções de deglutição e mastigação terão de adaptar-se de forma perturbada às alterações estruturais, sendo também visíveis desequilíbrios posturais e maior risco de infeções respiratórias (pois as funções de filtração, aquecimento e humidificação efetuadas pelo nariz não acontecem).
A sucção do dedo deverá ser gradualmente substituída pela chupeta, ou seja, quando o bebé levar o dedo à boca, deverá ser retirado e oferecida a chupeta, uma vez que investigações demonstram que as alterações estruturais provocadas pelo hábito de sucção digital são mais significativas.
Independentemente da situação, antes de apresentar a chupeta à criança, é imprescindível que os pais descartem a hipótese de fome, sede ou necessidade de interação e atenção. É um erro crucial utilizar a chupeta como forma de suprir estas necessidades pois poderão ser resolvidas sem o seu recurso. Por outro lado, evitar que a chupeta esteja no seu campo visual ou ao seu alcance (presa à roupa, por exemplo) também se mostrará uma estratégia eficaz, pois enquanto o bebé estiver distraído não se lembrará dela.
Para concluir, acredita-se que os pais, quando munidos da informação adequada, serão capazes de contornar as desvantagens do uso de chupeta e tirar o máximo partido das suas vantagens.
Dra. Daniela Fernandes
Terapeuta da Fala