A Importância de Brincar com os Números

Os primeiros anos de vida de uma criança são bastante ricos em relação ao desenvolvimento e aquisição de conhecimentos. Através da experiência e exploração do seu mundo envolvente e do contacto com outras crianças e adultos, ela começa intuitivamente a construir conceitos que são fundamentais para o desenvolvimento das noções matemáticas, ou seja, da numeracia. Brincar com os números e objectos, além de ser prazeroso para a criança, ajuda-a a descobrir e adquirir noções tão importantes como a noção de número, tamanho, forma, cor, quantidade, distância, ordem, peso e tempo, o que é crucial para que ela se prepare e muna de conhecimentos aquando da entrada na escola.
Estudos recentes têm demonstrado que, desde os primeiros meses de vida, os bebés já distinguem quantidades e já são capazes de responder às propriedades numéricas do mundo envolvente sem necessitarem, para isso, de ter desenvolvido a linguagem, o raciocínio abstracto ou mesmo de ter explorado o meio em redor (Dehaene, 1997; Butterworth, 2005; Nye, Fluck & Buckley, 2001).
As experiências que ocorrem durante os primeiros 6 anos de vida são, pois, fundamentais para que a criança comece a organizar e expressar ideias que, por sua vez, estarão envolvidas no desenvolvimento das noções matemáticas mais básicas e que podem ser adquiridas desde muito cedo.
Uma das primeiras componentes que deve ser desenvolvida ao nível da numeracia é o sentido de número, ou seja a noção do que são os números, de qual a sua utilidade e de que forma estes estão interligados (Castro & Rodrigues, 2008), pois só assim a criança terá as ferramentas necessárias para as etapas seguintes, ou seja, para um dia mais tarde conseguir realizar operações (cálculo) e resolver problemas. O sentido de número deve ser adquirido durante a idade pré-escolar e envolve competências muito importantes para o desenvolvimento da numeracia, como a capacidade da criança, num par de números, ser capaz de perceber qual é o maior, menor ou igual, sequencializar e emparelhar objectos e números e desenvolver as noções de conservação, seriação e cardinalidade (Wright, 2009).
Outra competência muito importante para o desenvolvimento da numeracia, durante os primeiros anos de vida, é a contagem. Para que esta capacidade se desenvolva com sucesso, é importante que previamente a criança consiga entender que a cada objecto de um conjunto corresponde apenas um número (por volta dos 2 anos), que os números devem ser sempre usados segundo uma ordem fixa e estável (por volta dos 3/4 anos), que o último número de cada contagem indica o número total de objectos presentes no conjunto que foi contado (por volta dos 5 anos) e que os objectos podem ser contados da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, de cima para baixo ou de baixo para cima, ou seja, que a posição do objecto numa sequência não afecta o resultado final da contagem (por volta dos 4 anos) (Wynn, 1992).
De seguida, apresentam-se algumas das actividades que os pais podem realizar com as suas crianças para promover o desenvolvimento de algumas competências básicas da numeracia:
• Explorar cada peça de um brinquedo de encaixes quanto à sua forma, cor e nome (forma geométrica) e, de seguida, colocar no encaixe correspondente;
• Contornar utensílios domésticos que tenham a forma de figuras geométricas, como pratos, moedas, pão de forma, tupperwares e peças de lego;
• Nas idas ao supermercado, realizar actividades de contagem, como colocar “6” laranjas “dentro” de um saco ou ir buscar “2” embalagens dos cereais preferidos;
• Contar uma história através de cartões que ilustrem as várias partes dessa história e no final desafiar a criança a colocar os cartões pela sequência correcta;
• Juntar as peças de roupa pela sua cor ou tamanho, como por exemplo juntar pares de meias, identificando no final as cores e as peças “grandes” e “pequenas”;
• Realizar em família o jogo do “Rei Manda”, em que um dos elementos da família fica o rei que dá instruções verbais aos outros elementos, as quais devem  envolver noções como “um”, “todos”, “perto”, “longe”, “em cima”, “em baixo”, “atrás”, “à frente”. Por exemplo, bater palmas “em cima” da cabeça ou “atrás” das  costas ou “todos” terem de ficar “perto” ou “longe” uns dos outros;
• Baseando-se nos desenhos animados preferidas da criança, imitá-los à medida que vai dando passos/saltos “grandes”/ “pequenos”, “rápidos”/ “lentos” e pedir que  os vá contando em voz alta;
• Colocar bolas dentro de arcos, de modo a formar um comboio de carruagens (arcos) com diferente número de passageiros (bolas) dentro de cada uma. O número  de bolas em cada arco deve ir aumentando. De seguida perguntar qual o arco que tem “mais” e qual o que tem “menos” bolas, quantas bolas estão em cada arco,  quantas bolas estão “dentro”/”fora” de um arco, etc.;
• Plantar em família um feijão e, à medida que este vai crescendo, ir fotografando as várias fases do seu crescimento;
• Fazer conjuntos com cartões ou objectos disponíveis em casa, por exemplo conjuntos com animais domésticos/selvagens, copos grandes/pequenos, transportes  terrestres/marítimos, etc. 

Dr.ª Paula Santos
Psicomotricista